Saturday

descartam-se amores:
aterro de sentimentos vencidos.

Friday

teu silêncio faz um barulho ensurdecedor.

Sunday

lá fora, luz de inverno.

Tuesday

vento batendo portas.
depois de new order, nei lisboa.
depois de 22 anos, 23.
depois de muita aleatoriedade,
um esboço de sentido concreto.
um sentir que provoca sentido
e acaba em metáfora.

uma porta. vários ventos.
já não sirvo nas minhas calças.
minha cama duplicou.
algumas coisas dão samba,
mas nem tudo acaba em pizza.

distração fora do tempo. dança em descompasso.
ainda procuro o conforto.

Wednesday

escrevendo sobre lixo, digito: caminhões compactadores.

o word não reconhece a palavra compactadores, do verbo compactar.
até fico na dúvida se esse plural existe... mas, seguindo, aperto com o botão da direita e ele me sugere: COMPACTA DORES.

acho que o word anda lendo as entrelinhas!

Thursday

faz muito sentido. e isso me é estranho.
da bagunça das minhas gavetas, uma série de três achados e perdidos. ou seria perdidos e, agora, achados?


Um pequeno ponto azul que brilha no meio de uma multidão apressada, embriagada pela velocidade urbana das coisas. Enquanto olho a avenida, no céu já caiu o dia, no mar a ressaca quebra na areia. Daqui não vejo o mar. Aqui não tem mar. Não enxergo muitas estrelas. As luzes ofuscam o azul intenso de fim de dia.
Estou a esperar. Parada, perplexa, perdida, ainda espero. A vida está para acontecer, é uma iminência, um pequeno movimento. A vida está no limiar de acontecer. Mais ou menos como a loucura nos homens. Está ali, está quase, é praticamente um descuido. O mesmo descuido que dizem ser a felicidade. Talvez seja isso. E eu aqui, a esperar.
Observo as pessoas sendo nas ruas. Aprecio os cheiros, ventos, suores. Sonho acordada o sonho de uma vida cor-de-rosa-azul-turquesa. Sonho em acontecer. Enquanto isso fico com os momentos que quase me fazem sentir a vida. Os momentos suspensos do chão, suaves, alegres, com gosto de sobremesa.
Tudo bem, todo esse jogo não passa de mais um passatempo. é, joguinho sujo pra brincar com neguinho que chora de amores.
Num momento qualquer entre. Entre o aqui e o ali, o aqui e o lá. Entre a tua mão e a dela, que antes era minha. Não, não a dela. A dela não era minha. A tua era minha e a minha era no lugar da dela. A minha era tua. E a dela... bem, a dela não era. Pelo menos não aqui,
É... mais ou menos isso. Um pouco difícil de explicar esse entre e não entre. Num momento entre o já e o amanhã. Entre uma nota e outra, aquele milésimo de segundo que faz um silêncio imperceptível. Entre um pingo e outro, uma tempestade, uma poça, um mar, um barco. Entre o aqui e o aí. Quilômetros, morros, mares, perfumes, peles, mãos, dedos, cabelos, rostos, horas, saudade.
Aqui, nesse meu pedacinho só meu. Aqui nesse meu entre, ventre, vulva, vento. Pedaço pequeno do presente. Presente pra mim, presente pra ti passado.
Trocadilhos pardos sem cheiro. Café da manhã esquecido com sono de antes de dormir. Durmo. Não mais entre, não mais dentre. Dentro, inteira, plena, sonolenta. Durmo num devaneio. Me descuido. Te encontro, te cruzo, te beijo, te uso. Desperto de novo entre. Entre o que acontecia e o que aconteceu.