Sunday

sinto que tenho ainda muito o que aprender. não gosto do que escrevo. não gosto do sentido que as palavras acabam tomando quando começo a escrever. acho que atrapalhou tudo. quando a gente acha que o final de semana é muito comprido é porque alguma coisa está errada. não, não. esses dias fizeram 8 meses que eu não tinha chegado em porto alegre. sexta, eu cheguei. hoje fazem 3 dias que eu estou aqui. hoje é meu primeiro domingo. e fez sol. é quase primavera, eu quero ver as flores. porque, oras, as flores são bonitas sim. e as vezes eu posso ser romântica sem pensar que isso é feio. eu te daria flores, se tu gostasse disso. na casa que eu tive, sempre tinham flores em cima da mesa. caprichos. tudo muito bem cuidado. era lá do outro lado. lugar ensolarado, apesar de toda chuva daquela capital cosmopolita. aqui eu tenho uma floreira quando abro a janela. e eu gosto. tudo está no seu devido lugar. agora, deixa vir o resto. eu não tenho medo. não já.

Saturday

então a gente sai as duas da manhã em busca de um pouco de diversão. quase com alguma expectativa mágica. é bom. por um segundo nos sentindo jovens. ora, somos jovens. e assim a gente vai, sai, põe o corpo pra fora. contraria a opinião de todos que, assim como nós, já sabem o que tem lá. mas, não importa. a gente não desisti. a gente sai do mesmo jeito. e o que é melhor: a gente se diverte. essa é a idéia.

nas outras horas eu faço o tempo passar imaginando. posição egoísta. minhas vontades ainda me matam.

Tuesday

de agora em diante eu vou ser assim.
e a vida vai ser mais colorida.

Sunday

existence what does it matter?
so much effort, so little relief.
in the end, the same for all. no one will be blessed for doing good.
so much to give, so much to care for and in the end nothing but the earth. six feet under the earth. or the warm flames of the fire turning your flesh into ashes. nothing. nothing but endless lack of meaning. so much effort trying to love and to be loved.
weak as a tiny blossom. my lungs are hanged empty.
lack of forgiveness. too much sorrow. too much guilty.
nothing. there's nothing there. but, we like to believe it has.

ah e quando cala, voz morta.
procurando sentido nas ausências.
a vida vazia de sentido.

Monday

the times we had. when the wind was blowing rain and snow, were not all bad.

outro dia no meu sonho as casas verdes desapareciam. a cor era algum tipo de marca, pra indicar que era aquela ali que tinha que ir. no mesmo sonho, de repente, um oceano grande e azul me cortou e deixou ferida aberta. não me afoguei, porque não era o tipo de água que afoga. era só um oceano. grande e azul. acordei sem entender. mas vi que essa era a última chance. as vezes esses tropeços nos causam um bocado. pisquei os olhos no caminho do ônibus. sentada olhando pela janela, revendo e fazendo filmes. uns já passaram, outros ainda por passar. até brigas a gente vê, romantiza. quando acorda já é quase hora de descer. e nada foi decidido. talvez fosse preciso perder o ponto pra assistir um pouco mais. perder o início desse filme agora seria tão insuportável quanto perder o trem. alguém lá na frente puxou a cordinha. o sinal acendeu. uma, duas, será que teria uma terceira vez? não sei quantas vezes o sinal acende. enquanto ele não pisca, acho que tudo bem. era alguém que pedia pra descer na próxima parada, e ela nem bem chegara.

fui atropelada por essa música que me provoca uma coisa. me faz pensar. parece que projeta esse filme que tem dentro da gente. um atropelamento poético. e não sei. é só inexplicável. ficou no repeat.

Sunday

me deixaram com a sala, o sofá, a lareira e o silêncio. o sol voltou a aparecer e o vento ainda não parou. o sofá é grande e eu pequena. não me mexo e imagino a tua companhia sentada ali. sendo o silêncio comigo.

na minha história tem bolo no meio da tarde. no fundo os estalinhos do fogo. tu lê Sartre e eu leio esses jovens. eu escrevo e te leio em voz alta. faço perguntas. tu responde e dá palpites. volta o silêncio. nossas pernas juntas embaixo do cobertor. tu me lê um pedaço. marca a frase com lápis. de vez em quando te olho por cima do computador. presto atenção no barulho das páginas passando. e assim passa o dia.

caberia bem na cena dos meus livros.

Thursday

uma taça de vinho porque esfriou.
escrevi e apaguei algumas vezes.
não adianta. desisto.
o que eu queria dizer era pra ti.
e nem era nada tão importante assim.
era só pra dizer e continuar dizendo.
porque eu não gosto de parar de dizer,
quando ainda tô só no início de tudo o que eu tenho pra dizer.
ou pelo menos que eu gostaria de dizer.
mesmo porque a gente tem esse costume de dizer por horas e horas, né?
é. alguma coisa como qualquer coisa.
e também não precisam ser coisas que façam sentido.
sem essa minha mania de significação-explicação.
eu só sei que eu queria continuar por mais um pouco,
te contar do que aconteceu desde a hora em que eu parei de dizer,
até agora.
bom, tudo bem. acho que ficou cansativo.
agora tu lê. e amanhã, quem sabe, eu continuo dizendo.

Wednesday

a casa mais feia da vila era dela!
dançava uma valsa tão barata, quase como se pulasse corda.
já é hora de dizer. quase tão em cima, que quase fica sem hora.

num relance me salta aos olhos a cena. já vi antes. é quase diária. já foi acostumada em mim. mas, de repente. de repente quando me pega desprevinida, ela é inevitável. também não é uma cena qualquer. mas, volta e meia ela vem. e me leva. te vejo com aquela blusa listrada que eu gosto. os cabelos voando. o sorriso largo. logo pisco. a cena sai de cena. desfoca. tu saindo de cena devagar... tu que achava que a cena era tão minha e tua. muito mais do que eu consegui achar. ironicamente, nesse vai-e-vem, quem fica sou eu. as cenas do último capítulo passam. nunca é bom. ninguém disse que seria. mas, elas passam. as vezes ainda tem o repeat de sábado, um trago, um tropeço. quando acabam as falas, quando chega no final do tempo, quando tudo já foi dito e não há mais tempo, termina a cena. entra a propaganda. uma nova novela começa.

Monday

falar. falar. falar.
escrever. escrever. dizer. sentir. sonhar.
pintar. desenhar. rabiscar tudo.
até que tudo, se esgote.

como se eu falasse uma língua diferente daquela que entendemos.
minhas palavras não são claras. ressoam dentro de uma caixa acústica chamada cérebro. meu cérebro. bate e volta. reverbera. e eu escuto ecos.

em cima da corda bamba, o malabarista decide se cai ou se tenta se equilibrar e chegar até o fim. lá embaixo não tem nenhum colchão. não tem rede de proteção.
se cair, dessa vez, ele morre.