Wednesday

Eu não me reconhecia nesse lugar. Eu não podia achar-me. Não aquela a quem estava acostumada. Essa casa não tinha a mesma claridade que a outra e, no entanto, era aqui que eu havia nascido. Eram entre essas paredes que eu tinha sentido a maioria das coisas. E, de repente, esse chão me era tão falso quanto areia movediça. Era esse o meu quarto de um ano antes. Mas, não eram as mesmas paredes. Ela não havia me visto partir. Ela não havia me visto voltar. Ela não podia, assim, saber tudo de mim. Meu quarto era novo. Ele realmente não se parecia com o quarto que deixei antes da minha partida. Era, contudo, muito semelhante. Os móveis, as cores, os livros na estante eram praticamente os mesmos. Mas, eu não era mais a mesma. E não via nas paredes a mesma coisa. Que estrago irreparável causamos. Eu tinha pedaços do meu passado por todos os lados. Mas, não possuía meu presente. Nem o meu, nem o dela. O que me queimava todas as noites, enquanto esperava o vento entrar pela janela. O inverno não era frio. E isso não me trazia nenhum alívio imediato. Quanto mais procurava a razão, mais a perdia. Não podia conviver com aquilo. Será que eu não seria capaz de comprometer meu futuro de maneira tão vaga? Eu sei que seria. E era devastador a maneira como o chão me engolia de repente. Aquele tapete novo me trazia certo conforto e, de vez em quando, eu tinha esses momentos de lucidez rápida. Logo depois tudo se misturava mais uma vez. E eu não sabia por quem respondia. Nem a quem chamava. Nem a quem não queria perder. Se a razão, ou se a ela.

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