Saturday

ah! como a gente descobre coisas quando o tempo é curto. eu te deixei entrar naquele táxi e nem reparei com que cara tu ia. e nem tentei dizer: tu não quer ir comigo? tu não quer ficar mais? não. eu de-li-be-ra-da-men-te te deixei ir. como eu fiz desde o início. e eis que eu me deparo, no meu táxi - por que pegamos táxis diferentes - pensando em como a gente descobre coisas quando é tempo já sem tempo. e enquanto o táxi corria eu ia pensando que ele precisava ir devagar, pra que eu pudesse contar tudo que eu andei pensando enquanto ele ia da oswaldo aranha até a minha rua.
quando eu desço, tu já não está. ela não está. ninguém está. a casa dorme. a rua dorme. e eu, não tenho sono. eu não sonho. o tempo acabou passando sem que eu pudesse me dar conta. e quanta coisa. acabou virando história.

'já é hora de ir' - sussura a mão que te puxa.

pronto. vai. sobe no avião. vira lembrança.

as vezes penso que eu poderia ter mais. eu só teria que me acostumar a certas coisas. ser um pouco menos crítica. alguém agindo tão de acordo com os meus passos me assusta. me seguindo tão ao pé da letra. me aprendendo. entregue por inteiro e eu o tempo inteiro negando os meus acessos. eu gosto de negá-los. eu não gosto que me saibam, pra que eu não me torne alvo frágil. mas, tu, tu me saca pelas entrelinhas. antes mesmo que eu possa parar com tudo isso.

como se tem medo de viver a verdade, quando tudo já foi concluído. agora não há mais tempo para enganações. estamos em cima da hora. atrasadas.

e, ainda por cima, quando ela falava, quando entrava essa terceira voz, me lembrava tanto de outras bocas. e eu conseguia me dar conta.
ah, como confundo os meus sujeitos.

permaneço deliberadamente nesse estranho estado de amor.

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